terça-feira, 16 de março de 2010

Era uma vez...

...um garoto que gostava de andar de bicicleta. Ele sempre ouvia falar em uma tal pista de bicicross na zona leste, por isso sempre pedia aos amigos ciclistas para irem com ele e descobrir e tal pista, mas sempre o taxavam de louco. Até que certo dia, o novo amigo doido dele chegou com um entusiasmo incomum, dizendo:

- Cara, descobri um parque na internet muito foda. Tem uma pista pra bicicleta lá, parece que é da hora. Fica lá na zona leste. Vamos?

O garoto que ouvira, ou melhor dizendo, quando eu ouvi isso, pensei em dizer “nossa, como eu não pensei nisso antes? Genial!”

É obvio que eu concordei, e marcamos para um fim de semana, adiamos para o outro, e depois para o outro. Depois de um mês enrolando para ir, finalmente criamos coragem. Na manhã de sábado do dia quatro de abril de 2009, acordei, me arrumei e parti da Cachoeirinha rumo ao melhor role de bike da minha vida.



Em Breve.

sábado, 6 de março de 2010

Quando Ainda Vivia o Ânimo Parte 2: Ressurreição

Eu e minha bike nova, pronto para... Ligar para um. Ligar para outro. Um está com o nariz escorrendo e não pode ir, outro tem que sair com a namorada. Uns falam e não cumprem, outros apenas vão embora sem se despedir.

Dúvida cruel: o que fazer? Se sair sozinho, corro risco de vida, ou pior, de perder a bike. Então eu teria que pegar a bike velha toda vez que fosse dar um role solitário. Foi o jeito.

Enquanto eu passava pelo velho caminho da Inajar e da Engenheiro, os fantasmas do passado me assombravam. O melhor dos tempos, todo alinhados correndo entre a rua e o meio fio, sentindo o vento bater naqueles rostos contentes e satisfeitos por estarem vivendo o melhor da puberdade.

Olhava para as avenidas, pontes, desvios, tudo. Lembrei da primeira vez que eu atravessei a ponte da Freguesia de bike. Antes meu limite não ultrapassava a zona norte, e o sentimento de ter alcançado uma nova fronteira foi de uma intensidade incrível. Depois disso me falavam de um parque gigante com uma pista na zona leste, e outra pista em Pirituba. Eu sempre sugeria, mas nunca ninguém me deu ouvidos.

De vez em quando eu chamava um amigo, às vezes o Pedro ou o Croquete, para dar um passeio básico até o Ibirapuera ou o Extra da ponte da Freguesia. Eles pegavam minha bike velha emprestado, e andávamos assim, sempre em dupla.

O último verdadeiro role de bike com o Danilo foi em janeiro de 2009, até a casa da namorada dele e de volta pra casa. Depois disso teve mais um, tentando ajustar um novo começo. Foi bom, mas não havia aquele clima da antiga amizade do ano anterior. Não havia clima, nem ânimo, nem porra nenhuma.

A segunda metade de 2008 foi marcada pelo afastamento graduado desse povo. A suposta equipe estava em frangalhos. Eu não podia admitir isso. Tinha enfim comprado, com muito suor, minha sonhada bicicleta! E para acabar nisso?

Antes de prosseguir, preciso inserir mais um personagem nesta história. Durante a primeira metade do ano, quando ainda vivia o ânimo, havia o Turco. Ele conseguira comprar a bike bem antes de minha pessoa. Por isso, saíam ele e o Danilo e mais um ou outro, para a tal pista de Pirituba e para a mata do Horto Florestal. E, mesmo não achando isso muito bonito da minha parte, eu tinha inveja. Eu me achava ‘passado para trás’ por não ter uma bike como a de todo mundo, sem um valor monetário satisfatório com peças apropriadas para a realização de manobras.

Hoje é engraçado dizer isso, mas eu o via como um rival. Só não entendia o que estava disputando. Talvez um lugar na equipe, ou só atenção. Enfim, eu compre minha bike que, por ‘coincidência’, tem o mesmo quadro que a dele, e que por uma coincidência maior ainda é igual ao quadro do Danilo. Só as cores que mudam (o quadro do Danilo é branco, o meu é azul e o dele é laranja, cores opostas). Antes que eu me esqueça, o motivo de minha escolha pelo quadro azul foi por causa de um sonho que eu tive, em que eu estava em um apartamento e, atrás de uma porta, havia a tão sonhada bike. No sonho, era uma bicicleta azul, idêntica a que eu consegui meses mais tarde. O ‘vendedor’ até disse que não tinha dessa cor, mas eu insisti.

Então fez-se o desastre no meio do ano. Cada um em seu canto. Decepções amorosas na escola. Princípio de solidão. Comecei a fazer cursinho. Conheci direito aquele que um dia quase julguei como inimigo. E o Turco virou Rafael.

Surge a irmandade. Rafael mostra enfim um caminho novo para um parque inédito. O Parque Villa Lobos. Subimos a lapa até o Alto de Pinheiros. Nessa época de frangalhos, renascem das cinzas o ânimo e o prazer em pedalar.

Um conselho que a velha equipe sempre me dava, era o de nunca, em hipótese alguma, pegar a Marginal Tietê. Depois que eles se foram, esse tabu foi quebrado. Além da Tietê, voltamos algumas vezes do Villa Lobos pela Marginal Pinheiros. Acaba aquela mesmice Ibirapuera/Extra/Cachorros/MTV.

Passávamos várias manhãs sentados num banco do Villa Lobos, rastreando e admirando as beldades esportivas e patinadoras. Até que, em um certo dia de role pelo asfalto do parque, eu consigo algo que sempre martelava em minha mente por não ser capaz. Aquele feito encerrava de vez todo aquele ciclo de inveja e insegurança.

Em alta velocidade, ergui a roda da frente, temendo perder o controle. Num pequeno impulso sincronizado com o corpo e os pés, levantei a roda de trás e saltei sobre uma moita. Ali fora realizado meu primeiro bunny.

Olhei para o Rafael, sem acreditar. Aquilo tinha mesmo acontecido. E com minha bike, e comigo!

Nesse clima de amizade em crescimento constante, prosseguimos com os roles. Aprendi que o mundo dá voltas. E, para isso, nada como ter uma bike e o caminho livre.

Mal sabia eu que em breve faríamos um giga-rolê por toda a extensão da Marginal Tietê e mais além. Aos poucos, exploramos cada zona dessa cidade, em muitas aventuras que valeram a pena. Apesar de tudo, ainda falta muito para explorar, e isso não será um problema enquanto ainda viver o ânimo.


(Terminal da Lapa visto do Viaduto. Caminho para o Villa Lobos)(Viaduto da Lapa - Zona Oeste)


(Vista da Marginal Pinheiros pelo Parque Villa Lobos)
(Vista da Marginal Pinheiros pelo Parque Villa Lobos)

(Local de treino para pulos com a Bike - em especial ali na poça)


(típico dia no parque)(Caminho de casa até o Pq. Villa Lobos e retorno pela Marginal Pinheiros/Tietê)
(Irmandade)

quarta-feira, 3 de março de 2010

Quando Ainda Vivia o Ânimo

Tudo começou no final do ano de 2007. Em uma noite particularmente fria, fomos dar um role de bike em turma. O primeiro de muitos que viriam. Então saímos, eu e uns amigos da classe. Guiados pelo Danilo, percorremos a ciclovia da Inajar pela primeira vez, passando pela Nossa Senhora do Ó até a Engenheiro Caetano Álvares e por fim voltando pela Imirim. Um círculo completo por quatro distritos.

Foi nesse momento que eu descobri a magia de pedalar e deslizar sobre o asfalto acompanhado da brisa do verão. Fiz novas amizades, como o Willian, o André e o Alessandro (da suposta equipe pro street do Danilo). Comprei uma bicicleta caiçara para acompanhá-los, e, conforme 2008 passava, eu ia trabalhando e juntando dinheiro para uma bike igual a deles. Era meu maior sonho naquele momento.

Às vezes eu chegava a ficar meio pra baixo pelo fato de não ter uma bike supimpa e não saber fazer absolutamente nada do que eles faziam. Lembro até hoje da primeira vez que fui pedalando até o parque do Ibirapuera. Meu freio traseiro estava pegando na roda, dificultando a pedalada. Mas ainda assim eu não dei o braço a torcer, esperando que alguém parasse primeiro para empurrar. Não admitia a possibilidade de perder em tudo.

Então eis que o Danilo desce para empurrar na subida da Sumaré. Justo o que eu achava que seria o último a fazer isso, isto é, o que pulava mais alto e sabia mais manobras da turma. Naquele dia eu percebi que descer para empurrar não era um crime tão grave assim. Afinal, não estamos cem por cento todo dia.

A primeira parada, subindo o cemitério do fim da Sumaré, era a Praça dos Cachorros (apelidada assim devido ao grande número de espécimes caninas). Enquanto eles desciam aquelas escadarias e pulavam sacos de lixo, eu acompanhava com minha caiçara. Às vezes descia uma escadaria ou outra, com o perdão da palavra, me cagando de medo.

Em seguida íamos até a praça da MTV (apelidada assim devido à emissora televisiva que se encontrava por perto). As escadarias eram mais curtas, mas em maior quantidade. E isso geralmente fazia o ciclista voar. Obviamente eu não descia com a caiçara. Ficava só admirando eles a descerem, pensando em quanto faltava para a minha bike nascer.

Enquanto isso, trocava altos papos com o projeto de equipe. O Willian falando de decepções amorosas e o André sobre assuntos peculiarmente variados. E minha amizade com o Danilo só crescia, com os inúmeros roles que ocorriam em várias noites e fins de semana. Tudo bem que nessa época não havia muita variedade nos lugares (rampinha de grama do Extra, perto da ponte da Freguesia, Ibirapuera, praça dos Cachorros, da MTV e uma pista tosca no Mandaqui), mas foi extremamente divertido e proveitoso.

Enfim comprei o quadro da bicicleta nova, e quando tive dinheiro novamente vieram as rodas e a suspensão. Aos poucos ela ia se formando, e eu a montava e desmontava em meu quarto. Ver ela de pé pela primeira vez, só com as três peças, proporcionou uma alegria descomunal. Logo eu estaria andando de igual para igual com o pessoal.

Certo dia, no Ibirapuera, aconteceu um fato memorável. Estávamos andando sem rumo por um espaço particularmente vazio, quando, depois receber tantas dicas do Danilo, forcei as manoplas com as mãos na diagonal, para cima e para frente. A bicicleta, quase que por um milagre, se ergueu majestosa. Mesmo que por dez centímetros acima do chão, eu realizei meu primeiro ‘bob’ (manobra pelo qual saltamos com as duas rodas ao mesmo tempo).

A primeira metade de 2008 foi tomada pelo pensamento ciclístico. Não havia outra coisa senão roles de bike para fazer em todo e qualquer dia livre. O ápice dessa fase ocorreu quando eu consegui completar minha bike nova, e finalmente eu pude pedalar com minha utopia realizada.

Entretanto, como tudo que é bom um dia míngua, essa fase acabou. Chega a segunda metade do ano, e um vende a bike, outro arranja um emprego estranho, e outro começa a namorar. Cada um em seu canto, tocando a própria vida. Sobrou quem?

Eu e minha bike nova.


(parte da antiga equipe na Praça dos Cachorros, distrito de Pinheiros. Detalhe na minha bike caiçara, que viveu o auge dos roles em turma)