quarta-feira, 3 de março de 2010

Quando Ainda Vivia o Ânimo

Tudo começou no final do ano de 2007. Em uma noite particularmente fria, fomos dar um role de bike em turma. O primeiro de muitos que viriam. Então saímos, eu e uns amigos da classe. Guiados pelo Danilo, percorremos a ciclovia da Inajar pela primeira vez, passando pela Nossa Senhora do Ó até a Engenheiro Caetano Álvares e por fim voltando pela Imirim. Um círculo completo por quatro distritos.

Foi nesse momento que eu descobri a magia de pedalar e deslizar sobre o asfalto acompanhado da brisa do verão. Fiz novas amizades, como o Willian, o André e o Alessandro (da suposta equipe pro street do Danilo). Comprei uma bicicleta caiçara para acompanhá-los, e, conforme 2008 passava, eu ia trabalhando e juntando dinheiro para uma bike igual a deles. Era meu maior sonho naquele momento.

Às vezes eu chegava a ficar meio pra baixo pelo fato de não ter uma bike supimpa e não saber fazer absolutamente nada do que eles faziam. Lembro até hoje da primeira vez que fui pedalando até o parque do Ibirapuera. Meu freio traseiro estava pegando na roda, dificultando a pedalada. Mas ainda assim eu não dei o braço a torcer, esperando que alguém parasse primeiro para empurrar. Não admitia a possibilidade de perder em tudo.

Então eis que o Danilo desce para empurrar na subida da Sumaré. Justo o que eu achava que seria o último a fazer isso, isto é, o que pulava mais alto e sabia mais manobras da turma. Naquele dia eu percebi que descer para empurrar não era um crime tão grave assim. Afinal, não estamos cem por cento todo dia.

A primeira parada, subindo o cemitério do fim da Sumaré, era a Praça dos Cachorros (apelidada assim devido ao grande número de espécimes caninas). Enquanto eles desciam aquelas escadarias e pulavam sacos de lixo, eu acompanhava com minha caiçara. Às vezes descia uma escadaria ou outra, com o perdão da palavra, me cagando de medo.

Em seguida íamos até a praça da MTV (apelidada assim devido à emissora televisiva que se encontrava por perto). As escadarias eram mais curtas, mas em maior quantidade. E isso geralmente fazia o ciclista voar. Obviamente eu não descia com a caiçara. Ficava só admirando eles a descerem, pensando em quanto faltava para a minha bike nascer.

Enquanto isso, trocava altos papos com o projeto de equipe. O Willian falando de decepções amorosas e o André sobre assuntos peculiarmente variados. E minha amizade com o Danilo só crescia, com os inúmeros roles que ocorriam em várias noites e fins de semana. Tudo bem que nessa época não havia muita variedade nos lugares (rampinha de grama do Extra, perto da ponte da Freguesia, Ibirapuera, praça dos Cachorros, da MTV e uma pista tosca no Mandaqui), mas foi extremamente divertido e proveitoso.

Enfim comprei o quadro da bicicleta nova, e quando tive dinheiro novamente vieram as rodas e a suspensão. Aos poucos ela ia se formando, e eu a montava e desmontava em meu quarto. Ver ela de pé pela primeira vez, só com as três peças, proporcionou uma alegria descomunal. Logo eu estaria andando de igual para igual com o pessoal.

Certo dia, no Ibirapuera, aconteceu um fato memorável. Estávamos andando sem rumo por um espaço particularmente vazio, quando, depois receber tantas dicas do Danilo, forcei as manoplas com as mãos na diagonal, para cima e para frente. A bicicleta, quase que por um milagre, se ergueu majestosa. Mesmo que por dez centímetros acima do chão, eu realizei meu primeiro ‘bob’ (manobra pelo qual saltamos com as duas rodas ao mesmo tempo).

A primeira metade de 2008 foi tomada pelo pensamento ciclístico. Não havia outra coisa senão roles de bike para fazer em todo e qualquer dia livre. O ápice dessa fase ocorreu quando eu consegui completar minha bike nova, e finalmente eu pude pedalar com minha utopia realizada.

Entretanto, como tudo que é bom um dia míngua, essa fase acabou. Chega a segunda metade do ano, e um vende a bike, outro arranja um emprego estranho, e outro começa a namorar. Cada um em seu canto, tocando a própria vida. Sobrou quem?

Eu e minha bike nova.


(parte da antiga equipe na Praça dos Cachorros, distrito de Pinheiros. Detalhe na minha bike caiçara, que viveu o auge dos roles em turma)

3 comentários:

  1. Por que não começar uma nova equipe, então? :D

    E meu primeiro passeio de bike na Inajar foi contigo. :D

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  2. Hahaha, quase senti pena de você no fim do post. xD
    Adoro o jeito que voce escreve cara. Acho que voce escolheu a carreira certa... sei lá :p

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  3. Taí duas coisas que eu super admiro em você: a tua mega animação para ciclismo e o quanto você escreve bem!

    Gostei do blog, muito bom! ;)

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