sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Ciclovia na Marginal Pinheiros será inaugurada Sábado!

Finalmente mais um sonho será realizado: Sair de casa, na Vila Nova Cachoeirinha, e pedalar por toda a extensão da Marginal Pinheiros. E, o melhor, sem perigo de morrer ou de perder o celular!

Não sei quantas vezes pedalei pela Marginal Tietê inteira, e posso dizer na ordem oeste-leste todas as pontes que cortam o rio. Certos pontos são extremamente perigosos, além de a marginal ter uma calçada toda esburacada e às vezes coberta por grama alta. Não dá para andar na local e muito menos na expressa (não que eu nunca tenha andado), então a melhor, digo, a menos pior alternativa seria pela calçada.

O lugar mais divertido pra pedalar na Marginal Tietê é a concluência do rio Tamanduateí. Nessa parte só tem pista expressa (a não ser que o ciclista queira atravessar uma ponte láá no fim do horizonte da Avenida do Estado). Mas isso não vem ao caso do assunto principal.

Eu até cheguei a traçar uma rota para o autódromo de Interlagos, entre Socorro e a Cidade Dutra. Deu 70 Km ida e volta (2Km a menos do meu máximo), mas com o recente rolê desventurado, olhei para o mapa e os arredores entre o Ibirapuera e o Autódromo, e pensei seriamente em pisar por aqueles lados novamente. Mas não será um punhado de Filhos da Puta expalhados pela Capital que vai me trancar em casa, num eterno trauma na minha satisfação e prazer em explorar novas fronteiras de bike.

Essa ciclovia vai, por enquanto, preencher as áreas entre o fim da Marginal Pinheiros (quaase em interlagos) e a estação Vila Olímpia, no distrito do Itaim Bibi. O projeto vai até o Parque Villa Lobos, no distrito do Alto de Pinheiros. Pra minha pessoa seria um desafio chegar inteiro na Vila Olímpia, então suspeito que eu vá usufruir do privilégio em pedalar às margens do Rio Pinheiros quando tudo estiver terminado. Mas quem sabe até lá eu já tenha ido a lugares muito piores...

Se o trecho pronto da ciclovia tem quase 15 Km, quando estiver pronta vai ser um tesão pegar do começo ao fim e voltar só para dizer que estive na represa Billings, somado aos lugares já explorados até o momento futuro.

Bom, espero que muitas outra ciclovias estajam em projeto ou até em construção pela cidade de São Paulo. Afinal, reza a lenda que o trânsito irá parar em 2013. Embora um ano depois do fim do mundo, é preciso se previnir desse problema. Além disso, pedalar faz bem pra saúde e pra satisfação mental.


(projeto Cachoeirinha-Interlagos sem ciclovias e com 'emoção')

(ciclovia inaugurada dia 27/02/2010 - amanhã, na Marginal Pinheiros)

quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

Perigo em Andar de Bike Sozinho

Mônaco azul e seu ciclista. Entrada da Vila Nova Cachoeirinha, distrito vizinho da moradia do perigo. Avenida Itaberaba, redondezas do Largo do Japonês (principal centro comercial do distrito). Agosto de 2009. Noite.

Perigo à vista. Oito ciclistas à espreita no cruzamento do Largo. Classe predominante: Suspensão Zoom e quadro MTB tradicional. Preço médio por bicicleta: Cento e Cinquenta reais.

Curva fechada para a esquerda. Rua alternativa da Auto Escola, subida suave para a rua de baixo do comércio. Perseguidores à vista, dobrando a esquina. Risco de encontro elevado.

Aumento na velocidade. Leve salto na lombada. Contração na barriga (feijoada em digestão). Velocidade dos oito expandida para alcance do alvo. Residência avistada. Freada brusca, pneu traseiro derrapando. Quase um projeto de cavalinho de pau.

Provável líder da gangue lança sua bicicleta longe, e acusa o alvo de ter causado tal acidente. Chave na fechadura. Pensamentos acelerados. O que fazer... Tudo parou. Preço aproximado do Mônaco: Mais do que todas as oito bicicletas juntas.

- Hey, olha o estrago que você fez na minha bicicleta! – Estava tudo em ordem – Dá um jeito pra eu ir arrumar na bicicletaria ali no fim da rua. – Era domingo à noite e não havia bicicletaria no fim da rua.

Dinheiro oferecido: 20 reais. O que deu para salvar: A vida, o rosto, cinco reais, a bicicleta, a personalidade. O que não deu para evitar: A bronca por inúmeras razões do que poderia ter ou não ter acontecido.

Uma certeza: Não poderia mais sair sozinho com a bicicleta boa. Conclusão: Bike de infância consertada para roles solitários.

(Avenida Inajar de Souza, a via arterial que liga a Cachoeirinha/Brasilândia com o Centro)

domingo, 21 de fevereiro de 2010

Avenida Brás Leme, Julho de 2009. Oito horas da Noite.

Uma senhora de meia idade passeava com seu cachorro pela ciclovia. O ar estava tranqüilo. Finamente o frio dera uma trégua, por enquanto. O trânsito na avenida era sossegado, formando um ambiente agradável para uma volta por entre as árvores da pequena estrada de concreto.

A senhora tinha raízes grisalhas nos cabelos enrolados. Seus olhos eram levemente largos, denunciando sua descendência japonesa. O pequeno cachorro era semelhante a uma vassoura de pêlo. Cheirava o chão à procura de um bom lugar para satisfazer suas necessidades fisiológicas. Andavam em um ritmo preguiçoso, apreciando o ambiente quase verde em meio ao oceano cinza da cidade.

De repente dois ciclistas passaram em alta velocidade pela senhora, fazendo voar seus cabelos. O cachorro hesitou em andar, com medo de ser atropelado.

- Cara, não corre aqui não. Vocês são doidos! – gritou a senhora, sentindo-se desrespeitada. Em resposta, um dos ciclistas berrou de volta:

- Vai dormir, caralho!

E continuaram a correr, tornando as palavras da senhora inaudíveis. Para os dois, tudo o que importava no momento era a garrafa de vinho que revezavam. Havia apenas alguns goles restantes na garrafa, mas eram protegidos como se fossem de ouro.

As duas bicicletas tinham cores contrárias uma da outra. Uma delas, a laranja, ia na frente, subindo e descendo pelos bancos e degraus que apareciam no caminho. A outra, a azul, pulava cada vez mais alto obstáculos, em sua maioria imaginários ou até sacolas de lixo largadas e falhas no asfalto.

- Olha! – um deles gritou, apontando para um terreno cercado por um muro pichado. – É a quermesse dos exclusivos. – Mais cedo, em busca do tão sonhado vinho, tinham ido até lá. Mas foram barrados por não possuírem um crachá.

- É. – disse o outro, dando um longo gole na garrafa, talvez o último. – Mas nós conseguimos comprar. Isso é o que importa.

- Sim. Foi difícil conseguir. Ainda bem que ainda existem pessoas dispostas a ajudar o próximo. – eles riram, lembrando a mentira que tiveram de inventar para conseguir a gentileza de uma mulher para conseguir a garrafa de vinho. Além do esforço descomunal para achar um estabelecimento com um saca-rolha.

A noite avançava enquanto eles adentravam os limites da Casa Verde. Precisariam contornar aqueles grandes morros para enfim alcançar o Limão.

Mais uma vez sentiam a valiosa sensação de liberdade. Flutuavam sobre aquela máquina de esforço físico, varando a avenida com uma alegria incontrolável. Afinal, tinham algo mais forte e valioso do que uma simples garrafa adquirida no Center Norte, em Vila Guilherme. Havia algo que não podia ser controlada pela sobriedade, e que já passara por metade da cidade, e os confins de Guarulhos e Osasco.

Amizade.



(ciclovia da Avenida Brás Leme, em Santana)