sábado, 6 de março de 2010

Quando Ainda Vivia o Ânimo Parte 2: Ressurreição

Eu e minha bike nova, pronto para... Ligar para um. Ligar para outro. Um está com o nariz escorrendo e não pode ir, outro tem que sair com a namorada. Uns falam e não cumprem, outros apenas vão embora sem se despedir.

Dúvida cruel: o que fazer? Se sair sozinho, corro risco de vida, ou pior, de perder a bike. Então eu teria que pegar a bike velha toda vez que fosse dar um role solitário. Foi o jeito.

Enquanto eu passava pelo velho caminho da Inajar e da Engenheiro, os fantasmas do passado me assombravam. O melhor dos tempos, todo alinhados correndo entre a rua e o meio fio, sentindo o vento bater naqueles rostos contentes e satisfeitos por estarem vivendo o melhor da puberdade.

Olhava para as avenidas, pontes, desvios, tudo. Lembrei da primeira vez que eu atravessei a ponte da Freguesia de bike. Antes meu limite não ultrapassava a zona norte, e o sentimento de ter alcançado uma nova fronteira foi de uma intensidade incrível. Depois disso me falavam de um parque gigante com uma pista na zona leste, e outra pista em Pirituba. Eu sempre sugeria, mas nunca ninguém me deu ouvidos.

De vez em quando eu chamava um amigo, às vezes o Pedro ou o Croquete, para dar um passeio básico até o Ibirapuera ou o Extra da ponte da Freguesia. Eles pegavam minha bike velha emprestado, e andávamos assim, sempre em dupla.

O último verdadeiro role de bike com o Danilo foi em janeiro de 2009, até a casa da namorada dele e de volta pra casa. Depois disso teve mais um, tentando ajustar um novo começo. Foi bom, mas não havia aquele clima da antiga amizade do ano anterior. Não havia clima, nem ânimo, nem porra nenhuma.

A segunda metade de 2008 foi marcada pelo afastamento graduado desse povo. A suposta equipe estava em frangalhos. Eu não podia admitir isso. Tinha enfim comprado, com muito suor, minha sonhada bicicleta! E para acabar nisso?

Antes de prosseguir, preciso inserir mais um personagem nesta história. Durante a primeira metade do ano, quando ainda vivia o ânimo, havia o Turco. Ele conseguira comprar a bike bem antes de minha pessoa. Por isso, saíam ele e o Danilo e mais um ou outro, para a tal pista de Pirituba e para a mata do Horto Florestal. E, mesmo não achando isso muito bonito da minha parte, eu tinha inveja. Eu me achava ‘passado para trás’ por não ter uma bike como a de todo mundo, sem um valor monetário satisfatório com peças apropriadas para a realização de manobras.

Hoje é engraçado dizer isso, mas eu o via como um rival. Só não entendia o que estava disputando. Talvez um lugar na equipe, ou só atenção. Enfim, eu compre minha bike que, por ‘coincidência’, tem o mesmo quadro que a dele, e que por uma coincidência maior ainda é igual ao quadro do Danilo. Só as cores que mudam (o quadro do Danilo é branco, o meu é azul e o dele é laranja, cores opostas). Antes que eu me esqueça, o motivo de minha escolha pelo quadro azul foi por causa de um sonho que eu tive, em que eu estava em um apartamento e, atrás de uma porta, havia a tão sonhada bike. No sonho, era uma bicicleta azul, idêntica a que eu consegui meses mais tarde. O ‘vendedor’ até disse que não tinha dessa cor, mas eu insisti.

Então fez-se o desastre no meio do ano. Cada um em seu canto. Decepções amorosas na escola. Princípio de solidão. Comecei a fazer cursinho. Conheci direito aquele que um dia quase julguei como inimigo. E o Turco virou Rafael.

Surge a irmandade. Rafael mostra enfim um caminho novo para um parque inédito. O Parque Villa Lobos. Subimos a lapa até o Alto de Pinheiros. Nessa época de frangalhos, renascem das cinzas o ânimo e o prazer em pedalar.

Um conselho que a velha equipe sempre me dava, era o de nunca, em hipótese alguma, pegar a Marginal Tietê. Depois que eles se foram, esse tabu foi quebrado. Além da Tietê, voltamos algumas vezes do Villa Lobos pela Marginal Pinheiros. Acaba aquela mesmice Ibirapuera/Extra/Cachorros/MTV.

Passávamos várias manhãs sentados num banco do Villa Lobos, rastreando e admirando as beldades esportivas e patinadoras. Até que, em um certo dia de role pelo asfalto do parque, eu consigo algo que sempre martelava em minha mente por não ser capaz. Aquele feito encerrava de vez todo aquele ciclo de inveja e insegurança.

Em alta velocidade, ergui a roda da frente, temendo perder o controle. Num pequeno impulso sincronizado com o corpo e os pés, levantei a roda de trás e saltei sobre uma moita. Ali fora realizado meu primeiro bunny.

Olhei para o Rafael, sem acreditar. Aquilo tinha mesmo acontecido. E com minha bike, e comigo!

Nesse clima de amizade em crescimento constante, prosseguimos com os roles. Aprendi que o mundo dá voltas. E, para isso, nada como ter uma bike e o caminho livre.

Mal sabia eu que em breve faríamos um giga-rolê por toda a extensão da Marginal Tietê e mais além. Aos poucos, exploramos cada zona dessa cidade, em muitas aventuras que valeram a pena. Apesar de tudo, ainda falta muito para explorar, e isso não será um problema enquanto ainda viver o ânimo.


(Terminal da Lapa visto do Viaduto. Caminho para o Villa Lobos)(Viaduto da Lapa - Zona Oeste)


(Vista da Marginal Pinheiros pelo Parque Villa Lobos)
(Vista da Marginal Pinheiros pelo Parque Villa Lobos)

(Local de treino para pulos com a Bike - em especial ali na poça)


(típico dia no parque)(Caminho de casa até o Pq. Villa Lobos e retorno pela Marginal Pinheiros/Tietê)
(Irmandade)

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